Início » Português » Silepse: significado, tipos e exemplos de concordância

Silepse: significado, tipos e exemplos de concordância

Compartilhe!

Durante seus estudos sobre o Português é provável que você já tenha se deparado com uma figura de construção um tanto polêmica e famosa: a silepse.

Que tal conhecer um pouco mais sobre ela e descobrir o motivo pelo qual a silepse gera tantos questionamentos? Por que as dúvidas são recorrentes sobre a concordância verbal e nominal? Vamos analisar.

A origem da palavra silepse é grega, varia de syllepse (latim), que quer dizer “ação de compreender”. Em casos onde, na frase, existe uma silepse, significa que uma palavra se opõe a outra. Não há subordinação sintaticamente falando, deixa-se concordar e combinar com um conceito associado a essa palavra.

Tanto por isso é dito que uma silepse contradiz a concordância lógica e formal, pois se empenha em efetivar a concordância ideológica, suportando o contágio do significado de termos ou locuções.

A silepse ocorre de três formas: silepse de pessoa, número e gênero.

Silepse de pessoa

Acontece quando existe um desacordo entre a pessoa do verbo e o sujeito expresso. Usualmente, o emissor é incluído no “eles”, um sujeito que compõe a terceira pessoa do plural. Assim, faz a flexão verbal no “nós”, a primeira pessoa do plural.

Como é sabido, podemos contar com três pessoas gramaticais:

  • Primeira – Que é o detentor da fala (eu / nós);
  • Segunda – Que é com quem está se falando (tu / vós);
  • Terceira – Que é de quem está se falando (ele / eles).

Atente para os exemplos:

“O inglês, somos patriotas.”

Veja bem que “somos”, como flexão verbal, está em concordância com um pronome que não foi explícito na oração, o “nós”.

“A gente comemos no shopping.”

“A gente” é uma expressão que também é um substantivo no singular, mas que tem o sentido de plural. No período que se segue, “fomos”, como forma verbal, se apresenta no plural. Contudo, a construção não é aceitável na nossa linguagem escrita.

Em uma linguagem coloquial “a gente” é comumente utilizado no lugar do “nós”. Contudo, quando a concordância de “a gente” assume a primeira pessoa do plural como correspondente da expressão, fazendo pronomes e verbos concordarem com esse sentido, não se pode considerar a forma como uma silepse. Isso porque nem sequer é reconhecida de forma legítima.

Na verdade, essa é uma construção gramatical de cunho despretensioso da linguagem oral. Usando a expressão, corre-se um enorme risco de mau uso da nossa língua, sendo passível de cometimento de erros grotescos.

Um bom exemplo de mau uso da língua: “A gente estacionou nosso carro na vaga errada”.

Outro exemplo de erro grotesco: “A gente somos cariocas”.

Mais exemplos de silepse de pessoa

“Todos ansiamos viajar de ônibus.”

A concordância não está sendo feita com – (anseiam) – “eles”, e sim, com “nós”.

“A circunstância é crítica porque os professores queremos a prova anulada.

A concordância não está sendo feita com – (querem) – “eles”, e sim, com “nós”.

“Os quatro íamos tagarelando sobre assuntos polêmicos.

A concordância não está sendo feita com – (iam) – “eles”, e sim, com “nós”.

Silepse

Silepse de número

Acontece quando o verbo faz a concordância quando do plural, pois o sujeito se apresenta como um coletivo. Atente para o exemplo:

O público  lotou rapidamente o local do evento e, por conta da demora no início dos shows, começaram a se agitar na entrada, gerando grande confusão.

Veja que “público” tem uma ideia em plural apesar de ser um substantivo no singular. Com isso, “começaram” foi escrito no plural no período que se seguiu.

Mais exemplos de sinopse de número

“O casal passeou pela Ásia e tiraram várias fotos.”

Nesta frase está sendo feita uma concordância com o sentido de plural que o substantivo “casal” transmite.

“A multidão lotou as avenidas e reivindicaram um país melhor.”

Nesta frase está sendo feita uma concordância com o sentido de plural que o substantivo “multidão” transmite.

“A maioria dos adultos gostam de férias.”

Nesta frase não está sendo feita a concordância com “maioria”, que é singular, e sim, com “adultos”.

Silepse de gênero

Percebe-se que entre os nossos gêneros gramaticais existe uma discordância quando temos uma silepse de gênero. Isso se dá entre o masculino e feminino dos substantivos e artigos, adjetivos e substantivos, etc.

Em diversas ocasiões, o gênero do substantivo não é de ordem natural, e sim, gramatical. No entanto, se existe uma ordem de gênero, existe um gênero em específico. Veja os exemplos a seguir:

“Mato Grosso do Sul é animada.”

Atente para o fato de que “animada” está em concordância com a sentido de estado, que é o elemento que se encontra subentendido nesta oração.

“A Paissandu está perigosa.”

“Paissandu” é um substantivo que tem o gênero masculino. No entanto, pela palavra “avenida” estar implícita na oração, foi feita a concordância no feminino.

Mais exemplos de silepse de gênero

“Fernando de Noronha é encantadora.”

Aqui é feita a concordância com um termo que está implícito, cidade, que tem o gênero feminino.

“A Francisco Bicalho está engarrafada.”

Aqui é feita a concordância com um termo que está implícito, avenida, que tem o gênero feminino.

“A gente está exausto, precisando de folga.”

Aqui a concordância não é executada com a locução pronominal, mas sim, com o gênero do emissor.

“Vossa Santidade está atento para os atuais escândalos envolvendo a igreja católica.”

Aqui a concordância não está sendo executada com o pronome de tratamento, mas sim, com o gênero do sujeito em questão.

Ferreira Gullar, um talentosíssimo escritor brasileiro, escreveu uma reflexão muito sábia com relação à silepse. Pare, leia e reflita sobre o tema. Talvez reconsidere o que imaginava, até então, estar errado.

“Significa que tudo está certo e que minha antiga professora de português, que me ensinou a fazer análise lógica e gramatical das proposições em língua portuguesa, era uma louca, uma vez que a língua não tem lógica como ela supunha e a gramática é de fato um instrumento de repressão; perdeu seu tempo dona Rosinha ensinando-me que o verbo concorda com o sujeito, e os adjetivos com os substantivos, como também concordam com estes os artigos…”.


Compartilhe!