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Teocentrismo: como surgiu, pensamentos e características

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Não é por acaso que a Idade Média, que perdurou na Europa entre os séculos V e XV, é também conhecida como a Idade das Trevas. Esse foi exatamente o período em que predominou no pensamento europeu o Teocentrismo, teoria de filosofia e religião que colocava Deus no centro de todo o mundo, como criador do universo e definidor da vida de todas as pessoas.

Foi um grande período, de aproximadamente um milênio, em que ocorreu enorme retrocesso no pensamento do homem, tanto intelectual como artístico, filosófico, humano e científico. Começou com a queda de Roma e o fim do Império Romano do Ocidente, em 476 D.C., até a queda do Império Romano do Oriente, com a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453.

Ciências não podiam contestar Deus

Foi o período de formação, também, dos principais reinos europeus e do surgimento e consolidação do feudalismo, aquele sistema em que os senhores aristocratas tinham uma leva de plebeus à sua disposição, em quem mandavam com o poder de donos. O poder da igreja também foi muito grande e padres e bispos agiam como autoridades e tinham até mesmo sua própria milícia, normalmente truculenta.

Nesse período do Teocentrismo, as ciências ficaram quase proibidas, pois não se podia contestar o poder de Deus, senhor de todas as verdades. O que a igreja dissera, era lei. Com Deus senhor de tudo, a Terra era também o centro do universo.

Os dogmas de Santo Agostinho

Todas essas teorias, hoje sabidamente fora da realidade, tiveram como seu principal criador e disseminador um cidadão chamado Aurélio Agostinho, que nasceu em Tagaste, cidade do norte africano (hoje Argélia,) em 13 de dezembro de 354 da Era Cristã. Seu pai, Patrício, era pagão, mas sua mãe, Mônica, era fervorosa cristã e teve grande influência na vida do filho. Hoje ele é consagrado como Santo Agostinho e a mãe como Santa Mônica.

Ele tornou-se bispo de Tagaste e foi nessa condição que escreveu alguns livros, sobre filosofia e religião e divulgou suas ideias, que perduraram com vigor até o final do século XV.

Teocentrismo

Copérnico e a teoria que mudou tudo

A partir desta época e, principalmente, século XVI, o Teocentrismo começou a ser contestado, sem que, antes, muitos fossem levados à forca ou assassinados por contestar ideias. Como, por exemplo, de que a Terra seria o centro do universo. Um dos primeiros contestadores foi o polonês Nicolau Copérnico, que provou, através de fórmulas matemáticas, a Teoria do Heliocentrismo, totalmente oposta ao Teocentrismo.

Pela teoria do matemático, filósofo, médico, astrônomo e cônego católico, o sol era o centro do universo e a Terra girava em torno dele. Provou, também, que a terra girava em torno dela mesma.

O Renascimento ajudou a mudar

Embora seu livro tenha sido integralmente publicado apenas em 1543, suas ideias já eram conhecidas desde o início do século XVI e ajudaram bastante a minar o poder da igreja e seus dogmas. Nessa mesma época, começava o cisma dentro da própria igreja Católica, o que levou Martinho Lutero a rebelar-se contra alguns dogmas, criando definitivamente o protestantismo em 1517.

Este foi um período de grande agitação do pensamento universal, de forma especial na Europa. Já tinha acontecido o Renascimento Italiano, na região da Toscana (Florença e Siena) e o continente europeu efervescia sobre o Renascimento Europeu, em países como França, Holanda e Alemanha.

No centro do universo, a Terra

A mudança radical nas artes, ciências, filosofia e astronomia, junto à redução do poder da igreja, provocou profundas mudanças no pensamento europeu. As ciências avançaram bastante, a começar pela descoberta da imprensa, o que permitiu a publicação de livros de todos os tipos e a expansão do pensamento, contestando velhas e arcaicas teorias, normalmente desprovidas de verdade.

A principal delas foi exatamente a do Teocentrismo e sua teimosia de que a Terra era o centro do universo, nele reinando um Deus todo poderoso que a todos comandava. As ideias de Santo Agostinho foram aos poucos literalmente caindo por terra e desfazendo-se uma a uma.

Pensamento bíblico como teoria geral

Isso não quer dizer que tenha acabado a crença em Deus. Simplesmente, acabaram-se os dogmas ditados por uma igreja que oprimia os cidadãos, exatamente para que ele não pensasse muito, pois as descobertas levariam onde chegaram: ao cisma e à divisão da igreja. Lembre-se que o próprio Copérnico era cônego católico.

O Teocentrismo tinha no pensamento bíblico sua teoria central. Aliás, era totalmente defensor da Bíblia católica, como sempre a conhecemos. Veja que, antes do Teocentrismo, o mundo conhecido era dominado exatamente pelo pensamento do Antropocentrismo, no qual o homem dominava a cena.

Teocentrismo

Período em que as ciências regrediram

Era assim na Grécia, por exemplo, em que as ciências alcançaram grande desenvolvimento, tendo o homem como centro dos estudos, das artes e das ciências.

Com o Teocentrismo de Santo Agostinho e a total obediência aos ditames bíblicos, as ciências regrediram, assim como todo o pensamento humano durante esse período da Idade Média. Ou Idade das Trevas, como passou a ser chamada já durante o Renascimento.

Igreja prepotente e muitos privilégios

A partir do momento em que a religião deixou de ser a única verdade a ser obedecida e seguida, o que evidentemente influenciou o próprio comportamento humano e modo de ser das pessoas – lembre-se do feudalismo e seus servos -, a sociedade evoluiu rapidamente. A idade feudal, que predominou durante um milênio sob o comando do Teocentrismo, foi um período altamente nocivo e violento para o homem e a história da humanidade.

Com Deus ditando todas as normas, através de uma igreja prepotente e com padres e bispos gozando de muitos privilégios e não querendo perdê-los, as ciências foram sufocadas e o homem retardou sua evolução. A nobreza, também, não queria perder seus privilégios.

Principais dogmas do Teocentrismo

Assim, pode-se fazer um grande resumo do que foi o Teocentrismo da seguinte forma:

  • Como centro do universo, Deus (padres) controlava tudo;
  • Com isso, havia o poder irrestrito e absoluto da igreja;
  • As ciências e qualquer pesquisa foram sumariamente perseguidas e banidas e seus executores ou mortos ou banidos de seu território;
  • A terra figurava como centro de todo o sistema solar;
  • As próprias artes toleradas, como pintura, arquitetura e artes plásticas, tinham a religião como foco principal;
  • Qualquer coisa fora disso, era pecado;
  • Os desejos humanos, incluindo sexo, eram fortemente reprimidos.

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