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O que caracteriza a verossimilhança? Entenda aqui!

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Uma das vantagens do ser humano em relação aos demais animais é uma capacidade grande de realizar associações e raciocinar ideias das mais simples às complexas. Isso permite que contar histórias, relatar algo e narrar acontecimentos a partir de uma sucessão de fatos que aconteceram, ou pelo menos imaginando uma realidade possível de existir, se faz presente em nosso dia a dia. Para definir esse conceito que existe em todos nós foi criada uma palavra não tão popular, mas que você já deve ter ouvido: verossimilhança.

Você pode até não usar muito esse termo, mas que ele te acompanha durante a vida inteira e em todos os momentos é algo que não se pode negar. Afinal, quantas vezes você não está em uma situação em que sente a vontade ou a necessidade de contar algo para alguém – seja um parente próximo, um colega de trabalho ou até mesmo um desconhecido que encontrou no ponto de ônibus.

Se em algumas situações nós somos os locutores, contando casos que aconteceram em nossas vidas ou com pessoas que estão envolvidas em nosso círculo social, também nos deparamos em momentos em que estamos do outro lado da história, daquele que ouve e absorve uma série de acontecimentos em que não participamos.

Vale dizer que essa relação de emissor e receptor não se dá apenas quando estamos falando ou escutando uma história. Essa sucessão de fatos reais ou imaginários, porém plausíveis, pode se apresentar através de outras narrativas, como na escrita e em meios de comunicação (internet, redes sociais, televisão, rádio) e por aí vai. Feita essa introdução sobre a capacidade de contar histórias, vamos entender melhor o que é verossimilhança.

Afinal, o que é verossimilhança?

Verossimilhança é uma palavra derivada de “verossímil”, que por sua vez vem do italiano vero (verdade) + simil (como, no sentido de igualdade). Portanto, verossimilhança assume o sentido de “ligação, nexo ou harmonia entre fatos, ideias etc. numa obra literária, ainda que os elementos imaginosos ou fantásticos sejam determinantes no texto; coerência”, de acordo com o dicionário.

Em português, algo é verossímil é uma característica que deve ser encontrada em uma narrativa que contenha fatos ou acontecimentos possíveis, sejam elas reais ou imaginárias. Quando um receptor recebe essa mensagem, ele deve ser incentivado a acreditar, por avaliar o que foi dito e perceber que ainda que seja uma mentira, se fosse verdade não seria nada absurdo.

Para compreender a sua aplicação na literatura é necessário entender que verossimilhança e veracidade são coisas distintas e que uma não excluí a outra necessariamente. Ou seja, os fatos narrados podem ter sido imaginados ou a realidade pode ter sido distorcida por conta do desejo do autor ou narrador. A única expectativa do receptor é de que haja uma coerência, fazer sentido, ter nexo e poder ser levado à realidade.

Por exemplo, você pode estar na fila do banco quando ouve um dos clientes chamar a sua atenção para jogar conversa fora. Essa pessoa te conta que na semana anterior voltava para casa já tarde da noite quando foi abordada por dois rapazes que roubaram seus pertences. Tomando como base as suas experiências vividas, histórias ouvidas e calculando a probabilidade de que um crime como o descrito acima seja cometido, você deverá julgar a narrativa como verossímil.

Por outro lado, se essa mesma pessoa na fila do banco te contar que o assalto não foi realizado por dois rapazes, mas sim por uma criança de colo que conseguiu fugir, você provavelmente terá muitas ressalvas em acreditar na história. Não apenas pela improbabilidade de esse fato ter ocorrido, mas também por ser impossível de acreditar que uma criança de colo é capaz de fugir em uma velocidade maior que um adulto médio.

E a verossimilhança não se dá apenas na possibilidade de algo ser real ou não, mas também para entender uma coerência narrativa, onde uma causa gera uma consequência. Ainda que, analisadas isoladamente a causa e a consequência possam ser plausíveis, a partir do momento que unidas elas geram uma contradição acabamos por ter uma situação inverossímil.

Por exemplo, se uma personagem não gosta de sair à noite, no decorrer da narrativa ela não pode estar curtindo uma balada, a menos que entre a primeira e a segunda afirmações aconteça algo que justifique essa mudança de atitude. Quando não houver, também não há verossimilhança no texto.

Verossimilhança

Por que a verossimilhança é importante?

Durante todos os momentos do dia você é submetido a inúmeras informações que moldam a sua forma de pensar e de enxergar o universo. Isso acontece através do que você viu, leu, ouviu e viveu. O que isso significa? Que todas as mensagens que transmitimos são influenciadas por alguma coisa – ela pode ser objetiva, como uma foto, ou subjetiva, como é um sentimento.

Então, para recriar a realidade, você precisa somar o maior número possível de fatos que verdadeiramente aconteceram ou seriam possíveis de acontecer. É a maneira que o autor/locutor tem para deixar o leitor/ouvinte confortável com as informações que está recebendo durante essa troca de ideias, trazendo verossimilhança à história.

Para que isso se torne realidade, existem alguns elementos que são primordiais para a construção da narrativa verossímil (eles devem estar em conjunto):

  • Personagens principais e secundários da história;
  • Narrador e a sua posição (onipresente, onisciente, observador, narrador-personagem);
  • Tema central da história e seu enredo de apoio;
  • Familiaridade do leitor/ouvinte com o espaço e tempo da história.

Porém, nem sempre na literatura foi assim que as estruturas narrativas foram construídas. Na maioria das escolas literárias, os artistas mantiveram uma grande preocupação com a verossimilhança, ainda que, por exemplo, na vanguarda do Dadaísmo a falta de lógica possa resultar em uma fantasia muito improvável de acontecer, mas plausível.

No entanto, se você analisar o Surrealismo, iniciado por volta de 1920, verá que não há qualquer comprometimento de seus artistas com a verossimilhança. Foi um período onde o inconsciente prevaleceu sobre o consciente, produzindo obras literárias e artísticas que pouco faziam sentido, deixando a cargo do leitor ou observador tentar interpretar e encontrar um sentido para aquilo.


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