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Anáfora e catáfora, suas características e diferenças

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A produção textual se dá através de um complexo processo de montagem de uma sentença. Na língua portuguesa, o que define se uma foi ou não bem construída é o seu nível de textualidade, ou seja, o que torna um amontoado de palavras em uma sequência linguística com duas principais características: coerência e coesão, fatores importantes para a redação do ENEM, por exemplo. Para tanto, existem diversos mecanismos que estão a serviço do locutor para que ele se faça ser entendido, como é o caso de anáfora e catáfora.

Esses dois nomes podem parecer bem estranhos em um primeiro momento, mas eles fazem parte do seu dia a dia há muito tempo, sendo representados pelos pronomes demonstrativos, tais como isso, isto, essa, aquela, este, o, esse e muitos outros. Não necessariamente, eles servem para dar coerência ao seu texto, mas, com certeza, são eles os responsáveis por darem coesão.

Para que uma sentença seja coesa, ela precisa, segundo especialistas da área, de quatro fatores: elipse, conjunção, coesão lexical, substituição e referência. É este último ponto que nos importa a partir de agora, pois é nele que estão inseridas anáfora e catáfora. Na verdade, o significado dos dois termos é bem semelhante – o que vai diferir é a posição onde cada um dos pronomes se encontra na frase.

O que é anáfora?

Primeiramente, é necessário que se saiba que anáfora é utilizada para definir dois recursos diferentes. Uma delas diz respeito a uma figura de linguagem de repetição. Ela é usada quando uma ou mais palavras são utilizadas repetidamente no começo de versos, orações ou períodos. O seu objetivo é dar ênfase e fazer com que a mensagem que está sendo transmitida tenha mais expressão. Veja alguns exemplos a seguir:

“É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol”
(Águas de Março – Tom Jobim)

“Quando não tinha nada, eu quis
Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei”
(À Primeira Vista – Chico César)

Como ficou claro, no primeiro exemplo há a repetição de “é”, enquanto no segundo percebemos que “quando” aparece em todos os versos da canção. Esse recurso muito utilizado em músicas e poemas serve para dar estética e plasticidade.

Porém, não é desta anáfora que trataremos aqui. A que nos importa neste post é o seu outro recurso, que tem certa semelhança com o primeiro. Neste caso, a palavra é utilizada para definir um pronome demonstrativo que busca estabelecer uma relação de coesão referencial a uma palavra ou a uma ideia que já foi explicitada no texto anteriormente.

“Você quer invadir a casa do Presidente? Como pretende fazer isso?”. Perceba que neste exemplo, o pronome “isso” remete a invadir a casa do Presidente, uma ideia que já havia sido expressada no texto anteriormente. Para que não houvesse repetição dos termos, diminuindo a textualidade devida à coesão, todo esse pensamento foi resumido em uma única palavra que serve para referenciá-lo. Veja mais alguns exemplos a seguir:

  • Meu filho está doente. O garoto não para de vomitar (o pronome “o” faz referência a “meu filho”).
  • Comprei um carro que possui ar-condicionado (o pronome relativo “que” faz referência a “carro”).

As anáforas costumam aparecer bem mais em pronomes, mas também podem estar presente no texto através de substantivos sinônimos. Como no exemplo abaixo:

  • O carro do meu filho quebrou. O pior de tudo é que o veículo está novinho (neste caso, o substantivo “veículo” faz uma referência ao também substantivo “carro” e evita que o termo se repita na frase).

Anáfora e catáfora

O que é catáfora?

Como explicamos, anáfora e catáfora significam quase a mesma coisa. O que define se uma palavra pertence a um recurso ou outro é a posição em que ela se encontra no texto. Se na anáfora ela vem depois, para retomar uma ideia que já foi dita, na catáfora ela tem o objetivo de antecipar um pensamento ou um termo que aparecerá mais tarde.

  • Não veja a hora de isso acontecer. Estou ansioso pelas minhas férias (na sentença, o pronome demonstrativo “isso” antecede “férias” o referente que surge logo na sequência da frase).
  • Fui comprar os ingredientes para fazer o bolo. Comprei ovo, açúcar, chocolate e morangos (perceba que “ingredientes” faz uma referência à lista de compras que vem a seguir com ovo, açúcar, chocolate e morangos).
  • A médica encontrou-o e pediu: “Marcos, vá descansar um pouco” (o pronome “o” está fazendo referência a “Marcos”, de uma maneira que só é possível entender com quem a médica está falando quando encontramos o termo referencial).
  • Ele já não está funcionando direito. Acho que chegou o momento de trocar de carro (caso semelhante ao anterior, onde só da para saber de quem se trata o pronome “ele” quando chegamos ao substantivo de referência “carro”).

Agora que você já sabe o que é anáfora e catáfora, coesão e coerência textual, textualidade e referência, não tem mais como confundir os termos e repetir expressões que fazem da sua sentença uma com poucos recursos linguísticos para se adequar às normas cultas da ortografia da língua portuguesa.

Normalmente, você irá se deparar com casos de anáfora e catáfora envolvendo pronomes, não apenas demonstrativos, mas também de outros tipos. Uma dica para identificar quando existe ou não um desses recursos é ficar atento à pontuação. Geralmente, um referencial não está na mesma sentença do pronome ou substantivo anafórico ou catafórico. Portanto, ponto final, vírgula e dois pontos são bons indícios de que o recurso pode estar presente no texto.

Para encerrar

Anáfora – por meio de uma referência, retoma um termo ou ideia que foi dita anteriormente.

Catáfora – termo utilizado para fazer referência a uma ideia ou termo que aparecerá posteriormente.


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