Início » Português » Antítese, figura de linguagem para expor ideias opostas

Antítese, figura de linguagem para expor ideias opostas

Compartilhe!

As palavras soltas podem ter sentidos muito simplificados. Afinal, sem nada que as complementem elas não passam de termos com significados literais, sem qualquer tipo de carga emocional ou um sentimento mais forte, presente. Sempre que desejamos expressar algo para o mundo, podemos recorrer aos diversos mecanismos que a linguagem nos dispõe e que dão novos sentidos às palavras que antes eram “cruas”. Uma das mais utilizadas neste sentido é a antítese, uma das várias figuras de linguagem que permitem uma plasticidade textual bem marcante.

Antítese é uma palavra de origem grega, oriunda da junção entre “anti” (contra) e “theses” (ideia). Na prática, é um recurso linguístico que aumenta o sentimento e o dinamismo que um texto possui, que dá ao autor da obra a possibilidade de criar relações entre palavras que possuem significados opostos.

Ela surgiu há muitos anos, antes mesmo da criação da fala ou da escrita. Sendo assim, antítese nada mais é do que uma simbologia que se dá através de palavras com sentidos contrários que unidas na mesma sentença buscam afirmar uma realidade contraditória ou ambígua, dependendo do contexto em que esses termos estão inseridos.

Em muitos momentos da literatura mundial, inclusive aqui no Brasil, essa figura de linguagem foi fundamental para explicar o sentimento de dualidade vivido pela população. Em terras brasileiras, foi no período do Barroco que a antítese ganhou a maior força e mostrou como era a sensação de extremos opostos que afligiam os escritores da época – termos como noite e dia, vida e morte, claro e escuro eram muito utilizados para formular metáforas.

Vale ressaltar que a utilização de palavras com sentidos antônimos não causa contradição, tornando o texto incoerente, mas exprime uma maior importância à ideia que está tentando ser apresentada ao leitor. Utilizar termos com significados opostos ajudam a reforçar a mensagem do locutor.

Uso na literatura

A antítese é muito conhecida por ter sido uma das principais características utilizadas pelos escritores do Barroco (1580-1756), escola literária que ficou marcada por um sentimento de dualidade, onde conflitos ganhavam importância nos textos que não escondiam exageros e sentimentos contrastantes.

“Nasce o sol, e não dura mais que um dia
Depois da luz se segue a noite escura
Em tristes sonhos morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria”
(À instabilidade das coisas no Mundo – Gregório de Matos)

No exemplo anterior temos claros exemplos de antítese no poema do autor do Barroco em diferentes termos: sol/noite, luz/escura e tristezas/alegria. Como você pode perceber, apesar de serem palavras com sentidos opostos, o texto em si não é prejudicado por uma falta de coerência. Pelo contrário, o poema se enriquece de sentimento e ganha bastante plasticidade, mostrando a preocupação do autor em criar uma atmosfera que mostre uma angustia muito grande, representada na sobreposição de ideias.

Onde mais se usa antítese?

O uso da antítese é muito comum e não se restringe a um período da história brasileira, tão pouco a somente poetas, como acontece com alguns outros recursos que não se popularizam tanto. É possível encontrar essa figura de linguagem em músicas e mesmo em frases corriqueiras, principalmente quando se está tentando exprimir uma ideia de exagero – as palavras antônimas dão a sensação de que a um abismo entre elas. Confira alguns exemplos:

  • O acidente foi tão feio que o paciente ficou entre a vida e a morte.
  • Lá fora está bem frio, mas dentro de casa estamos todos quentes.
  • O que é bonito para você pode ser feio para mim.
  • Faça chuva ou faça sol, eu vou para aquele show.
  • Não sei te dizer se o que ele disse é verdade ou mentira.
  • A dor pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer.
  • A linha que separa o amor e ódio é muito tênue.

Antítese

Qual a diferença entre antítese e paradoxo?

É bem normal que algumas pessoas confundam as ideias de antítese e paradoxo, duas figuras de linguagem que tem como semelhança tratarem de oposições. Porém, a diferença entre elas é gritante no que diz respeito ao sentido que isso dá ao texto.

Enquanto que na antítese as palavras ou expressões com significados opostos possam conviver em harmonia na mesma frase, o paradoxo se constitui em palavras ou expressões contrárias que ao serem empregadas na mesma sentença tornam o seu sentido absurdo ou impossível de entender. Olhe os exemplos a seguir para entender na prática o que é o paradoxo:

  • Eu adoro ficar sozinho escutando o silêncio (se “silêncio” significa ausência de som, como alguém pode ficar em casa o escutando?);
  • A minha melhor companhia é a solidão (se “solidão” é falta de companhia, ela jamais poderá ser a melhor companhia de uma pessoa).
  • “Amor é fogo que arde sem se ver
    É ferida que dói e não se sente
    É um contentamento descontente
    É dor que desatina sem doer”
    (Sonetos – Luís de Camões)
  • Que pode uma criatura senão,
    Entre criaturas, amar?
    Amar e esquecer, amare malamar,
    Amar, desamar, amar?
    (Amar – Carlos Drummond de Andrade)

Como você viu, antítese é apenas uma das figuras de linguagem que trata de oposições. Todos esses recursos que existem na língua portuguesa estão à disposição dos escritores para tornar seus textos mais ricos, pois é através deste jogo de palavras que se constroem as ideias necessárias para dar um sentimento amplo à mensagem que está sendo transmitida para o mundo.

Não só os autores do Barroco se viram em situações onde o exagero e a contraposição eram necessárias, assim como nós nos dias de hoje também precisamos utilizar destas ferramentas antigas para expressar nossos sentimentos.

Em versos mais elaborados, nem sempre a antítese está tão clara. Por exemplo, colocar “pena” (no sentido de plumagem de aves) e “pedra” na mesma frase, se cria uma situação em que, logo de cara, interpretamos que se trata de uma ideia de oposição entre algo leve e pesado, mesmo que essas palavras não estejam explícitas no texto.


Compartilhe!