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Guerra de Canudos: a revolução de Antônio Conselheiro

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A Guerra de Canudos, também chamada de revolução ou insurreição de Canudos foi uma das mais marcantes revoltas do interior da Bahia, especialmente por seu inusitado desenvolvimento e pelo caráter social e religioso.

Seu desenvolvimento ocorre em um contexto de crise econômica, assim como a maior parte das revoluções ocorridas no país no século XIX. Seu grande diferencial, no entanto, é o tom messiânico construído ao redor de Antônio Conselheiro, e o desenvolvimento singular do episódio.

Entenda as causas, etapas e desfecho da Guerra de Canudos:

Contexto histórico

A Guerra de Canudos ocorreu entre os anos de 1896 e 1897, mas desenrolou-se no cenário baiano durante algum tempo antes que eclodisse. Com a economia baiana passando por uma grave crise iniciada pro um ciclo de secas, a pobreza assolava a maior parte da população, enquanto enormes extensões de terra não produziam e não geravam empregos. Em uma sociedade dependente da produção rural, isso significou miséria de desespero.

Neste cenário, o desespero deu lugar a diversos discursos esperançosos de busca por uma possível salvação. Entre estes ícones de uma nova esperança de caráter messiânico, a figura de Antônio Conselheiro passou a ganhar força. Em seu discurso, o cearense desenvolveu sua própria utopia, que seria desenvolvida no vilarejo de Canudos, passando a chamar-se Belo Monte.

Com seu discurso, passou a atrair cada vez mais pessoas em busca de uma vida melhor, e rapidamente passou a incomodar a aristocracia e, sobretudo, a classe religiosa – ofendida com a presença de uma nova retórica de salvação que “roubava” seus fieis.

Canudos e o surgimento de Belo Monte

O vilarejo de Canudos já existia desde o século XVIII, em um vale. Antônio Conselheiro chegou ao local em 1893, instalando-se com seu discurso de salvação e de uma nova sociedade. Em busca de uma esperança frente ao cenário de crise, a população começou a migrar para o local, rebatizado de Belo Monte.

Estima-se que cerca de 25 mil habitantes foram a Belo Monte viver sob os ideais de Antônio conselheiro. Sua intenção eram combater a fome e a pobreza através do fim da cobrança de impostos e da restauração de uma sociedade guiada pelos valores católicos.

Para Conselheiro, a República representava o afastamento do Estado do caminho correto, e o desenvolvimento de um Estado laico era a representação do próprio governo do Anti-Cristo. Com o desenvolvimento de sua fama, Antônio passou a ser chamado por muitos de o “Bom Jesus”, e incorporou em seu discurso a ideia de ser um enviado de Deus para acabar com as injustiças sociais.

Na época, além da crise econômica, enormes grupos de escravos excluídos da sociedade e de sertanejos desesperados entenderam, em seu discurso, uma forma de salvação, garantindo-lhe legitimidade e, sem demora, um exército para manter Belo Monte.

Desfecho e a Guerra de Canudos

Inicialmente, o discurso de Antônio Conselheiro não incorporava a ideia anti-republicana de forma declarada. Desta forma, o Estado demorou para agir em relação ao grupo que começava a reunir-se. A própria estrutura de discursos messiânicos não era rara na época, considerando a situação propícia para o seu desenvolvimento.

Com o tempo, no entanto, Igreja e os ricos da região passaram a perceber, no grupo, um grande perigo. Rapidamente, espalharam-se rumores de que os Canudos, como era chamados, eram monarquistas que buscavam desfazer a República. Obviamente, a nova informação chamou a atenção do Estado, que precisou agir.

O exército foi enviado três vezes para Belo Monte e, nas três, foi derrotado com certa facilidade pelos seguidores de Conselheiro. Percebendo a gravidade da situação e o fortalecimento da comunidade frente às vitórias, o Coronel Antônio Moreira César foi enviado para “resolver” a situação.

Moreira César já havia reprimido a Revolução Federalista de Santa Catarina, e tornou-se conhecido por sua crueldade em batalha, tendo mandado executar centenas de revoltosos no sul do país. Com as vitórias anteriores sobre o exército, no entanto, a população já apoiava um fim violente ao povo de Canudos.

Com um grande exército a República cercou o local e matou mais de seis mil sertanejos seguidores de Conselheiro. Todo o local foi queimado e destruído após a vitória, para que os sobreviventes nunca quisessem voltar.


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