Todo o pensamento filosófico que floresceu entre o princípio do primeiro milênio (século I) e o fim da Idade Média (século XV), período este que também coincidiu com o Renascimento, pertence ao que se costuma definir como Filosofia Medieval. Muitos autores, entretanto, classificam esse período entre os séculos V e XV, mas, há aqui controvérsias.
Isso porque, na verdade, grande parte do pensamento medieval na área filosófica esteve assentado nas Epístolas de São Paulo e Evangelho de São João, ambos discípulos de Jesus Cristo e que, por isso mesmo, viveram no século I, o primeiro da Era Cristã.
Filosofia nasce para explicar a Igreja
Este foi um período conturbado da história e, para compreender bem o que é a Filosofia Medieval, é preciso entender primeiro esse contexto em que ela foi desenvolvida. Ao ser crucificado por romanos e judeus, Jesus Cristo deixou sua Igreja, em fase de fundação, sem uma liderança definida. E sem escritos claros que identificassem os caminhos a serem seguidos nos próximos anos e séculos.
Coube a seus discípulos e primeiros padres, já investidos de filósofos, desvendar esses caminhos e buscar a orientação teórica que a Igreja deveria seguir rumo à sua sedimentação. E convém lembrar que, logo após a morte de Cristo, seus seguidores continuaram sendo perseguidos, especialmente por romanos e judeus.
Tudo começa com São Paulo e São João
Paulo de Tarso, o discípulo São Paulo que abandonou o exército romano para seguir Jesus como apóstolo, era talvez o mais esclarecido dos discípulos. Como já tinha estudado filosofia, ele interpretou muitos dos ensinamentos de Cristo e, por isso, tem 13 de suas Epístolas inseridas no Novo Testamento. Menos letrado, a contribuição de São João Batista com o seu Evangelho também é importante neste primeiro livro cristão.
É a partir dos estudos destes dois, de forma especial, que surgem os primeiros indícios da Filosofia Medieval. Leva esta denominação por ter predominado na Idade Média, que só começou em 476 DC, com a queda de Roma e do último imperador romano do Ocidente.
Quatro grandes grupos do período
A Filosofia Medieval, portanto, teria começado alguns séculos antes da Idade Média, o que leva alguns autores importantes a dividirem esse período do pensamento europeu em quatro grandes grupos:
- Filosofia inicial com os padres apostólicos;
- Logo a seguir, filosofia com os padres apologistas;
- Filosofia Patrística;
- E Filosofia Escolástica.
Princípios da Filosofia Medieval
São estes dois últimos períodos – Patrística e Escolástica – os mais importantes da Filosofia Medieval e, por isso, considerados por alguns autores como os únicos desse período, o que não parece correto. Em todo este período, de praticamente 1500 anos, os principais filósofos pertenciam aos quadros da Igreja Católica e seus esforços dirigiram-se exatamente para explicar os preceitos da Igreja diante dos ensinamentos pagãos dos filósofos gregos, especialmente Platão e Aristóteles.
A razão disso é simples: como pregar uma nova filosofia, mesmo que sendo religiosa, diante de ensinamentos filosóficos contraditórios? Por isso mesmo, é possível classificar a Filosofia Medieval com as seguintes características:
- Grande inspiração na filosofia greco-romana, com destaque a Platão e Aristóteles:
- Buscava explicar a fé cristã diante dos preceitos da razão filosófica;
- Os conceitos gregos de filosofia foram adaptados aos preceitos da fé cristã;
- Precisaram explicar os conceitos da alma humana, eterna, situada acima do corpo humano;
- Também explicar os conceitos de Divindade e da Trilogia Divina;
- E, principalmente, como existe o mal se o mundo foi criado por um Deus poderoso e estritamente bom.
Santo Agostinho cria novos conceitos
A Filosofia dos Padres Apostólicos, a partir do primeiro século do I Milênio, buscava explicar os ensinamentos cristãos. São Paulo Apóstolo foi seu principal expoente. A fase dos Padres Apologistas defendia a fé cristã como uma filosofia superior ao que pregavam os filósofos greco-romanos, especialmente Platão e Aristóteles. Dá para dizer que eram propagandistas e, entre estes, destacaram-se Orígenes de Alexandria, Justino Mártir e Tertuliano.
A partir do século IV, a Filosofia Medieval sobe o tom e passa a criar seus próprios pensamentos, a sua filosofia propriamente dita. Seu principal expoente é Aurélio Agostinho, que nasceu em Tagaste, norte da África (hoje Argélia), filósofo e escritor, que divide sua fortuna com os pobres ao converter-se ao cristianismo e funda Ordem Agostiniana. Hoje é conhecido como Santo Agostinho.
Patrística e a explicação do mal
Como principal pensador da Filosofia Patrística, busca explicar toda a fé católica a partir dos pensamentos dos filósofos gregos, especialmente Platão. Entre seus 113 escritos, ele trata de explicar a imortalidade da alma, junto à existência de um só Deus, tudo a partir da filosofia grega.
Um de seus principais conceitos para esta escola filosófica é a explicação do mal, um dos princípios que mais afligia Santo Agostinho. Para ele, Deus não é responsável pelo mal, mas, sim, o homem. Deus nos deu o livre arbítrio e Adão, ao escolher o mal, sacrificou todo o homem. Com o livre arbítrio, entretanto, Deus manteve com o homem a possibilidade de escolher o caminho eterno, o que só é possível pelo caminho da fé.
Escolástica e São Tomás de Aquino
Também são da Filosofia Patrística Santo Inácio de Antioquia, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio de Milão e Santo Irineu de Lyon. A Filosofia Escolástica deu seguimento ao pensamento anterior – a Filosofia Patrística – evoluindo para explicar a existência de Deus, imortalidade e a alma humana. Baseou-se mais nos ensinamentos do grego Aristóteles e seu pensador mais proeminente foi São Tomás de Aquino.
Por ter sido levada para as escolas, passou a ser conhecida como Escolástica, mas, como os movimentos anteriores, teve em padres e bispos seus principais pensadores. Até porque a igreja agregava os principais pensadores da época. São destaques na Escolástica Pedro Abelardo, São Bernardo de Claraval, João Duns Escoto e Guilherme de Ockham.
O Renascimento começa a mudar tudo
Como pode-se ver, a influência da Igreja foi fundamental em todo o pensamento da Filosofia Medieval, desde os seus primeiros filósofos – os primeiros padres -, logo após a morte de Jesus Cristo. Seguiu com grandes pensadores, como Santo Agostinho, considerado o doutor da Igreja Católica pelos pensamentos que influenciou a cultura Ocidental até nossos dias, e por São Tomás de Aquino.
Por influir de forma decisiva no pensamento humano, mas sempre a partir de preceitos religiosos e seus dogmas – o que Deus afirmou não pode ser contestado -, foi um período de grande retrocesso ao pensamento humano e ao desenvolvimento das ciências, de forma especial. O Renascimento, a partir do século XV, começou a mudar radicalmente esses conceitos.
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