A crise na Venezuela nos faz levantar algumas questões: O que há de errado com o país? Quais são seus principais problemas? Quais são os sucessos e erros do governo de Nicolás Maduro? O que vai acontecer daqui para a frente?
A Venezuela vem sendo um dos temas recorrentes nas rodas de conversa da imprensa mundial. Agora, o ritmo das notícias sobre a crise venezuelana caiu, apesar do fato de que o caos econômico, político e migratório está piorando.
A situação no país foi e continua sendo uma das questões mais controversas – nem sempre construtivas – entre aqueles que se definem como esquerdistas.
À seguir, vamos explanar um pouco sobre toda essa crise e a ambiguidade de opiniões que cerca o tema.
Crise na Venezuela: diagnósticos e previsões para a República Bolivariana da Venezuela
A Venezuela tem uma economia baseada exclusivamente em petróleo. Sua sociedade é ineficiente, historicamente acostumada às receitas do composto químico.
Vive sendo assediada por um país estrangeiro e tem um governo que quer desenvolver seu próprio sistema. Erros em sua política econômica não compreendiam a imposição do controle cambial.
Esse controle que impede os cidadãos de comprar moeda estrangeira é necessário quando o país tem problemas em obter a moeda e você deve promover o consumo interno com a moeda nacional dos produtos produzidos pelo próprio país (como no caso de Cuba).
Mas precisamente a Venezuela produziu apenas moeda estrangeira porque produz apenas petróleo para vender no exterior. E todos os setores precisam de moeda estrangeira porque tudo é importado.
Se existe o estrangulamento da troca de moeda, o país sufoca, porque não é capaz de adquirir nada. Se for acrescentado que o país tem uma alta parcela de corrupção e uma economia parasitária, a corrupção e a especulação serão acionadas em torno do mercado negro da mudança. E foi o que aconteceu.
Um breve resumo da situação que a Venezuela está passando atualmente
A Venezuela atravessa o pior momento de sua história republicana, produto do colapso de todo um modelo e sistema político, econômico e social. É uma crise cujo impacto nos escapa por causa de sua vastidão, por causa das consequências inimagináveis que tem sobre a saúde da população, a economia, o meio ambiente, sem mencionar as instituições (Justiça, segurança, etc.).
Essa é uma consequência direta do modelo de funcionamento do Estado que o falecido Hugo Chávez impôs de maneira autoritária, mesmo que tenha sido validado como presidente.
Chávez conseguiu nos fazer pensar que sua compaixão pelos pobres valia o preço de desmantelar as instituições da democracia. Hoje, os venezuelanos entendem que todo esse discurso social era, antes de tudo, uma impostura, e que o projeto era, na realidade, tomar o Estado.
Os 5 maiores problemas que contribuíram para a crise na Venezuela
- A crise humanitária. A escassez de alimentos e medicamentos que teve sua origem em 2014. Isso deve ser resolvido urgentemente com a ajuda da comunidade internacional.
- Falta de serviços públicos básicos, como água e luz. Também as dificuldades na obtenção de identificação (lá venezuelanos que passaram mais de um ano à espera de um passaporte).
- Escassez de alimentos e medicamentos, escassez de dinheiro e a insegurança. A dieta dos venezuelanos foi drasticamente restringida nos últimos anos e casos de desnutrição infantil explodiram, assim como doenças como a malária e o sarampo.
- Colapso do sistema rentista. Durante o segundo período de Chávez (2006-2012), a Venezuela teve em média a maior bonança de petróleo de sua história. Contudo, o país alcançou apenas 3% de crescimento médio naqueles anos. A dependência do petróleo foi aumentada para atingir 97% do PIB e nenhuma indústria foi criada para superar essa dependência.
- Ausência do sentido do político. Uma das maiores conquistas de Hugo Chávez e da onda progressista latino-americana foi colocar a política como prioridade. Atualmente, existe uma lacuna narrativa no Chavismo, que após ter reduzido a pobreza em seus primeiros anos, conseguir aumentar o acesso à educação, saúde, moradia, agora está destinado a distribuir caixas de alimentos e remover zeros para a moeda. A oposição, fragmentada e sem um projeto de país alternativo, deixou a população à deriva.
O maior erro e o maior acerto de Nicolás Maduro
Um dos maiores erros de Nicolás foi não ter aceito (politicamente) a derrota nas eleições parlamentares de 2015, para entrar na construção de um novo sistema político de reconhecimento mútuo que teria derivado em duas direções.
A realização do Referendo Recall em 2016, com a provável vitória da oposição venezuelana e a construção de uma transição democrática e dialogada, com anistias, renovação de poderes públicos e diálogo entre as duas partes.
A segunda teria sido uma transição política liderada por Maduro e alguns líderes da oposição, permitindo-lhe governar até 2018, assumindo ele próprio a renovação institucional: um novo Supremo Tribunal de Justiça, um novo Conselho Nacional Eleitoral nomeado pela Assembleia Nacional, bem como a eleição de novos líderes regionais e municipais representativos dessa nova maioria votada pela Assembleia Nacional. Isto é, aceitar democraticamente a nova maioria da vontade do país.
É difícil ver um sucesso, a menos que consideremos como tal permanecer no governo à custa da miséria de milhões. Nisso, ele foi tremendamente bem sucedido.
No entanto, forçando a encontrar algo a dizer, pode-se citar a convocação dos que estiveram presentes na mesa de diálogo 2014. Isso parecia o início de um sistema de convivência. Também poderia ser o reconhecimento mútuo, ou seja, o início de um sistema político.
Mas foi apenas um gesto que, embora Chávez nunca tenha feito em 13 anos de governo, não traduz méritos.
Previsões para a crise na Venezuela e seu governo no curto e médio prazo
É impossível dar previsões assertivas, mas é possível sentir dois cenários.
Primeiro, uma solução militar, como resultado do agravamento da crise humanitária. Algo no qual descontentes setores das forças armadas realizarão um golpe.
O segundo, que Maduro consolide o “socialismo real” (comunismo). Assim, poderá continuar administrando a miséria através da burocratização de todos e de cada um dos espaços da vida.
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