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Patrística, a filosofia cristã dos primeiros séculos

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Logo após a crucificação de Jesus Cristo, a igreja fundada por ele ficou órfã. Sem uma unidade clara e ainda perseguida pelos romanos, seus seguidores enfrentaram muitas dificuldades para difundir a fé cristã, que resultou depois na fundação da Igreja Católica. Esse trabalho inicial de organizar os ensinamentos de Cristo e reuni-los em escritos coube aos primeiros padres, fundando a Patrística (de padre), uma das mais importantes correntes filosóficas da Idade Média.

Ela teria persistido por aproximadamente 500 anos, entre os séculos IV e VIII DC, embora tenham sido encontrados pergaminhos com ensinamentos semelhantes já nos primeiros anos da Era Cristã. A Patrística, portanto, teria surgido já no século I.

Os ensinamentos que vêm dos gregos

Este foi o período de grande expansão do cristianismo e seus seguidores precisavam de fortes argumentos racionais para explicar os argumentos dos textos deixados por Jesus Cristo e seus discípulos e também do Velho Testamento, antes da Era Cristã. Os primeiros escritos foram baseados exatamente nas Epístolas de São Paulo e nos Evangelhos de São João, ambos apóstolos de Jesus.

Ao tentarem explicar estes textos religiosos e bíblicos, os primeiros padres buscaram na filosofia grega os argumentos racionais para convencer romanos e pagãos. Mas, claro, precisaram fazer muitas adaptações ao pensamento de filósofos gregos, especialmente Platão e Aristóteles.

A alma humana e as heresias

Com estas adaptações, foi surgindo uma filosofia cristã que buscava interpretar os ensinamentos religiosos à luz do pensamento racional filosófico. Tinham que falar da fé diante da racionalidade defendida pelos gregos, mostrar como era o Divino e sua natureza, como conduzir a vida humana diante da nova moral cristã e, nisso tudo, foram introduzindo os conhecimentos sobre a alma humana, que se sobrepõe ao corpo. A alma é mais forte e sobrevive ao corpo, passaram a explicar.

E quando surgiam pontos controversos e de difícil explicação diante dos ensinamentos ou documentos cristãos, a explicação passou a ser bastante simples: são heresias, ou seja, crenças contrárias à fé cristã.

Patrística

O pecado original, o juízo final

A filosofia Patrística vai avançando e abrindo caminho para a expansão do cristianismo, que avança para dentro do Império Romano. A fé ganha força alicerçada no pensamento filosófico grego – Platão e Aristóteles -, mesmo que com adaptações. Para os padres que difundiram a Patrística, os pensadores gregos não chegaram às verdades finais porque Deus ainda não havia se revelado, o que só aconteceu após Jesus Cristo.

Assim, para avançar com a evangelização dos pagãos, surgem as ideias de como Deus criou o universo, como surgiu o pecado original com Adão e Eva, a questão da Trindade Divina, encarnação, juízo final e ressurreição, entre outras questões religiosas explicadas à luz da filosofia.

Tempos ainda sem a Bíblia

Assim surgem os dogmas da fé cristã, que são as verdades reveladas por Deus e que, por isso, são inquestionáveis. A filosofia não pode explicar ou discutir a ressurreição, porque isso é palavra Divina, verdade absoluta. Essa é a filosofia Patrística, que abriu espaço para o crescimento da Igreja Católica.

Lembre-se que, nesta época – primeiros séculos da Era Cristã -, a Bíblia ainda não existia. Pelo menos como a conhecemos hoje. Existiam apenas textos, normalmente dispersos em papiros, que só passaram a ser reunidos pelo teólogo Eusebius Hyeronimus (mais tarde São Jerônimo) a partir de 406 DC. A primeira versão em latim da atual Bíblia só ficou pronta pouco depois de 420 DC.

Mais importante pensador da Patrística

Foi, portanto, um período realmente complicado para os primeiros padres e bispos difundirem um pensamento religioso que nem unicidade possuía. Estas regras religiosas foram sendo criadas aos poucos por estes padres e teólogos dos primeiros tempos. O mais importante deles foi Aurélio Agostinho, que nasceu em Tagaste, uma cidade no norte da África ocupada por Roma.

Hoje conhecido como Santo Agostinho, nasceu no ano de 354. Ele no início não era cristão. Converteu-se mais tarde e acabou como bispo de Hipona, cidade próxima a Cartago, onde estudou.

Adaptação das ideias de Platão

Seus escritos e ensinamentos são fundamentais para a sedimentação da Patrística e, inclusive, para moldar muitas das nossas crenças ocidentais. Santo Agostinho busca em Platão algumas de suas ideias originais, incluindo a de que existe um mundo sensível (que vemos, tocamos) e um mundo perfeito, que é o mundo das ideias.

Mas, para moldar o pensamento da filosofia Patrística, e servir à igreja que defende, substitui o mundo das ideias pelo mundo de Deus, o mundo Divino. E só há uma alternativa para chegarmos a este mundo perfeito, o de Deus – é pelo caminho da fé.

Patrística

Origem do mal é o livre arbítrio

Com isso, ele leva o mundo de então a crer que a racionalidade da filosofia explica o mundo Divino. E, neste, há coisas que não se discute, pois são ensinamentos de Deus, que não se questiona. Os homens, ao seguirem o caminho do bem, conseguem elevar-se acima do mundo material e assim é que vão conseguir salvar a sua alma. Este é o caminho de Deus.

Santo Agostinho também buscou alternativas para explicar a origem do mal, que muito o afligia. Afinal, Deus não poderia ter criado o mal, mas, apenas o bem. E encontrou a explicação dizendo que Deus, ao criar Adão e, portanto, o homem, foi obrigado a dotá-lo de inteligência e do livre arbítrio. Adão podia ter escolhido o bem, mas, preferiu o mal e com isso levou todo homem ao pecado.

Para todos os dogmas, uma explicação

Pelas suas explicações, de fato Deus não criou o mal, mas, apenas o bem. A falta do bem é que leva ao mal e, este, foi de livre escolha de Adão e não do próprio Deus. Um ladrão, por exemplo, é desprovido do bem e é isto que o leva ao pecado ou à falta de honestidade.

A Patrística encontrou explicações para quase todos os dogmas religiosos através dos escritos de Santo Agostinho.

Vida eterna pela escolha do bem

Platão defendia a ideia de que o mundo é eterno, sempre existiu. Santo Agostinho também resolveu este problema: disse que efetivamente Deus criou o mundo, mas, antes de criá-lo, já possuía essas ideias. Ou seja, o mundo sempre existiu no pensamento Divino. E apesar do pecado original, o de Adão, Deus deixou aberta ao homem a possibilidade da salvação eterna, também pelo livre arbítrio e, ao contrário de Adão, escolher o bem.

Assim pode salvar sua alma, o que se constitui num dos principais ensinamentos da filosofia Patrística. Deus tudo sabe e tudo define e nós estamos na sua total dependência.


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